Karen Sierra iniciou seu discurso na conferência destacando sua representação no GLI, um laboratório de certificação autorizado pelo MINSETUR, e o papel de sua organização no setor de jogos. Ela explicou que a GLI é responsável por testes e auditorias para garantir a conformidade técnica das operadoras. Além disso, eles trabalham em estreita colaboração com os governos no desenvolvimento de legislação, regulamentos e auditorias de jogos de azar. Esclareceu que, embora não sejam operadoras, seu trabalho abrange muito mais do que apenas certificações técnicas, ressaltando a importância de seu trabalho para a integridade e a sustentabilidade do setor.

Padrões GLI: "Uma das coisas que fazemos é escrever padrões que são públicos e transparentes e que estão em nosso site. Os padrões são basicamente os requisitos técnicos para as diferentes verticais de jogos que existem no setor e são chamados de padrões GLI. Como você vê aqui, há diferentes tipos de padrões para a operação de jogos on-line e apostas esportivas. É o GLI-1933. A regulamentação peruana e os padrões técnicos peruanos são baseados nesses padrões. 

Jogos sustentáveis: "Pediram-me para falar sobre jogos sustentáveis neste caso. E bem, quando falamos sobre jogos de azar sustentáveis, obviamente estamos falando sobre o que significa buscar um equilíbrio entre a regulamentação e o fornecimento de ferramentas para que o setor seja bem-sucedido ao longo do tempo. Há vários aspectos nisso, mas hoje eu gostaria de me concentrar nos três pontos sobre os quais o diretor do órgão regulador peruano, Yuri Guerra, falou em outra conferência aqui. São os três pilares, os três motivos pelos quais eles regulamentaram: prevenção de lavagem de dinheiro, jogo responsável e prevenção de fraude. Portanto, a apresentação é voltada para esses pontos que ele mencionou."

Integridade do esporte e das apostas esportivas: "Vou começar falando sobre a integridade do esporte e das apostas esportivas. Quero começar esclarecendo que as operadoras não são as culpadas, como a maioria das pessoas que não entendem esse setor acredita; mas, na realidade, são as operadoras que são vítimas de manipulação de resultados e dessas redes criminosas que operam em nível internacional. Porque esse é um problema que não é um problema de um país específico, mas um problema que transcende fronteiras".

História de sucesso na Espanha: "Para ilustrar o que ele disse anteriormente, tomarei como exemplo a última história de sucesso que o governo da Espanha teve este ano. É a chamada operação Mursal, na qual o governo colaborou, que foi a Direção Geral de Regulamentação de Jogos de Azar. Por meio dos dados que eles recebem das operadoras e da análise constante que fazem de todos esses dados, eles alertaram o CEPIDE, que é o Centro Nacional de Polícia para a Integridade do Esporte na Espanha, que faz parte da Polícia Nacional de Jogos da Espanha, onde foram alertados sobre algumas apostas que pareciam ser anormais, de acordo com os padrões que normalmente são vistos, em uma partida de tênis no Brasil, para apostas recebidas por uma operadora espanhola. 

Basicamente, essa investigação em conjunto com a Europol resultou na condenação dos dois líderes dessa rede criminosa. Além disso, ela envolveu não apenas apostadores e esportistas, mas também informantes".

Prevenção de fraudes: "Do ponto de vista da prevenção de fraudes e do efeito sobre a integridade do esporte, a questão da identificação do jogador é muito importante. No caso dos jogos de azar on-line, as apostas esportivas aqui no Peru não podem ser anônimas. Todos os jogadores precisam ser registrados. Nesse caso, o regulamento também deve estabelecer requisitos para que essa identificação seja a mais real e precisa possível. Trago como exemplo o caso da Cidade de Buenos Aires, onde o regulamento diz que o operador deve se comunicar com o registro civil para confirmar a identidade das pessoas. Um advogado me disse que está tentando se conectar com o registro civil há seis meses. Portanto, isso significa que, às vezes, o regulamento não é o que se espera. Mas temos que trabalhar nisso.

Ferramentas e tecnologia na prevenção de fraudes: "A avaliação da identidade continua durante a sessão de jogo, e aqui vamos além da regulamentação. Porque a regulamentação acabará fornecendo o mínimo que o operador deve cumprir e que o setor deve cumprir para manter a integridade do jogo. No caso do setor de jogos on-line que funciona com base em tecnologia, você pode imaginar que é como nos bancos, onde temos de garantir que não haja fraude e, nesse caso, temos de procurar outras ferramentas além da regulamentação para proteger as operações. 

Na GLI, temos um braço de segurança cibernética. E é com eles que, às vezes, trabalhamos com algumas operadoras, estabelecendo procedimentos de práticas recomendadas. Um exemplo claro é a pegada digital. Essa é a pegada que deixamos em nossas comunicações. Acontece que quando usamos a Internet, quando usamos nossos computadores, deixamos certos padrões que nos identificam como usuários. 

Por exemplo, endereço IP, e-mail, versão do sistema operacional, versão do navegador; mas também os movimentos que fazemos com o mouse, como fazemos isso, os padrões de digitação no teclado, como usamos o teclado, o nível de sofisticação, de não detectar que há algo que possa dar a ideia de que não é a pessoa, que não é realmente o proprietário da conta. Isso chega a esse nível.

Proteção ao jogador e jogo responsável: "Em termos de regulamentação técnica também, e isso inclui a regulamentação peruana, há uma obrigação de registrar uma série de dados e que esses dados também sejam informados ao órgão regulador. Os dados vão até o mínimo detalhe de toda a operação de jogo. Eles se referem a cada aposta feita: a data, o horário, a quantia de dinheiro, o horário de cada evento esportivo, quantas pessoas apostaram nesse evento e a conta do jogador. Essa última é essencial para a integridade do esporte. Você sabe absolutamente todos os movimentos que os jogadores fizeram: depósito, quantia de dinheiro, tempo gasto jogando. Isso não só ajuda a integridade do esporte, mas também a prevenção de danos e o jogo responsável.

A importância da inteligência artificial no setor de jogos de azar: O tópico da inteligência artificial, insisto, é muito importante para a análise de dados.  Não estamos falando apenas de Inteligência Artificial que o operador ou o software deve ter para poder analisar, mas já existem organizações no setor dedicadas ao monitoramento de dados. Do ponto de vista das Associações, podemos mencionar estas duas: IBIA International Integrity Betting Association, que é uma associação que aceita membros que podem ser operadores, provedores de dados, todos aqueles que querem participar para compartilhar alertas ou compartilhar informações.  E no caso da ULIS (no original United Lotteries for Integrity in Sports) que é a Associação Mundial de Loterias, WLA (no original World Lottery Association), que tem uma associação com o mesmo objetivo de federações esportivas. 

Eu sempre gosto de falar sobre a liga e os esforços que eles fazem para monitorar as apostas e criar acordos, não apenas com as operadoras de jogos de azar, mas também com os órgãos reguladores, e eles desenvolveram seu próprio software de Inteligência Artificial: La Liga TIC 3.0. É ele que eles usam para analisar os dados não apenas dos jogos da Espanha, da liga, mas também monitoram outros jogos, como os da CONCACAF e todos os jogos dos países da América Latina.

Quais são os desafios que enfrentamos com a Integridade no Esporte? Karen Sierra responde a essa pergunta da seguinte maneira:  Bem, basicamente em nossos países é a falta de regulamentação. Há poucas regulamentações de jogos de azar que indiquem especificamente requisitos para evitar ou proteger o operador nesse sentido. Na maioria dos países, a manipulação de resultados não é criminalizada. Acho que o Brasil é a exceção, não é? 

Insisto: nosso setor é baseado em tecnologia e o pior é a falta de conhecimento que existe, a ignorância que existe, tanto no nível da polícia quanto dos órgãos judiciais, de como funciona esse setor. Então, toda essa evidência que tentamos trazer, baseada em tecnologia, que muitas vezes é usada pelo operador, não é valorizada corretamente. E bem, a desconfiança, certo? Em muitos de nossos países, ainda há uma grande desconfiança entre o governo e o setor privado. E isso significa que não conseguimos o que está sendo feito aqui no Peru e o que o engenheiro San Román fez: uma política de portas abertas para que haja comunicação entre a operadora e o órgão regulador. Porque sem colaboração, esses crimes não podem ser desmantelados.

Conclusão: Karen Sierra concluiu sua palestra destacando a importância da estreita colaboração entre os órgãos reguladores e as operadoras para garantir a integridade e a sustentabilidade do setor de jogos de azar. "Sem colaboração, esses crimes não podem ser desmantelados. A luta contra o jogo ilegal deve ser uma prioridade e, para isso, precisamos de uma abordagem coordenada e baseada em tecnologia."